ASILO
C
Entretanto a coisa não era bem assim. Já se encontrava no crepúsculo da vida, o tempo corroía seus músculos, suas carnes. Colocar meias nos pés já era cansativo, correr nem pensar. Mas depois a ditadura sobre ele foi piorando: come isso, não come aquilo, olha o remédio, toma banho, faz exames, nada de frituras, obedece aos médicos… virou um joguete nas mãos daqueles que lhe queriam bem.
Vacinas, não! ele queria argumentar: as crianças pegavam doenças e se curavam, adquiriam imunidade de modo natural, agora tantas injeções! Está certo que a gotinhas foram necessárias…
Ninguém lhe fazia pergunta alguma, os idosos são incapazes, não mais percebem a realidade, suas respostas são inadequadas… Eram as respostas que ouvia comentarem sobre ele.
A solidão cercada de parentes era insuportável. Então resolveu pedir que o deixassem viver seus últimos anos num asilo. A família atendeu de pronto. Que alívio! A família libertada.
Ao contrário do que muitos pensam, sobre colocar velhinhos num asilo como um ato de crueldade, às vezes a realidade é outra. Lá, ele fez três amizades, o suficiente para livrá-lo da solidão, e sentir-se vivo novamente.
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