Belle de Jour

Fugindo da ditadura brasileira, Ragnar buscou exílio em Marseille onde atravessou anos de muitas dificuldades. Não foi fácil ficar longe da cidade familiar, sem bens suficientes para sobreviver e sem conhecer bem a língua local. Era como um náufrago numa ilha deserta que pela primeira vez conhecia a fome. Anos de solidão. Os franceses não tratam estrangeiros como iguais. Aceitava qualquer tipo de trabalho, de faxineiro a garçom, e só depois de seis meses, conseguiu a amizade do senhorio da pensão onde vivia. O homem andava desconfiado da própria esposa e lhe fez um estranho pedido.

– Ragnar, preciso que siga minha mulher nas escapadas que ela dá.

– Sinto muito, mas isso vai contra meus princípios. Sou contra delações, sou a favor da liberdade sexual…

– Pago mil francos.

A necessidade falou mais alto que os valores morais. Naquela época, foi exibido o famoso filme Belle de Jour, protagonizado pela atriz francesa Catherine Deneuve, considerada um modelo de elegância e beleza. A película expunha o cotidiano de uma mulher casada, dama da alta sociedade parisiense que ia quase todas as tardes, sorrateiramente, se encontrar com um amante bem mais jovem que ela. Grande sucesso da época, o filme ativou a imaginação e a libido da mulherada, sobretudo das francesas. Os maridos ficaram preocupados, as mulheres andavam muito salientes.

Ragnar passou a seguir a mulher e descobriu que ela, quarentona, se encontrava com um jovem marroquino duas ou três tardes por semana, como no filme. E agora? Como contar ao senhorio, qual será a relação dele? Precisava de obter provas, comprar uma câmera velha, conseguir fotografar os encontros e os beijos de despedida…

Quando entregou as fotos, sentiu culpa – o senhorio deu uma baita surra na esposa.

Agradecido pelo favor que lhe fizera, o marido alardeou suas qualidades de detetive entre os amigos também desconfiados das esposas. Então, foi contratado para alguns casos e deu-se bem, pegou várias delas em fragrante. Assim iniciou sua carreira de detetive.

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