Shakespeare
Cesar protagonizava Hamlet no Teatro Nacional de Brasília, temporada curta, apenas um fim de semana. Quase todos os amigos que lá moravam estavam presentes na primeira noite. Como ele vivia no Rio e raramente vinha até a capital da República, esta era uma ótima oportunidade para reencontrar os amigos. Marcos e Júlia, os mais chegados, estavam logo na fila da frente e faziam questão de mostrar a admiração que sentiam pelo amigo ator, os queixos caídos. Mais tarde, enquanto ceavam num restaurante… – Você sabe que eu detesto Shakespeare, mas interpretado por você, até que dá pra suportar – comentou Marcos. – Pra dizer a verdade, eu também não gosto – concordou o ator. – Coisa velha, filosofia barata, e depois, poesia dita como se fosse...
Leia MaisFlor no Brejo
Pais ricos, infância mimada, juventude ilimitada – perfil do jovem que estacionava seu carrão diante do bar da esquina. Comprou cigarro e quando voltava ao veículo, um mendigo se jogou a seus pés – Muita fome, eu tenho muita fome, repetia. Irritado, o rapaz desvencilhou-se com um chute: – Vai trabalhar, vagabundo! – e voltou pro carro. Partiu em alta velocidade, fazendo os pneus cantarem, jogando fumaça nos olhos já embaçados do pedinte. Pegou a estrada que descia a serra, era noite, neblina. Numa curva, passou direto e despencou numa íngreme descida da floresta. O carro só parou quando ficou preso entre duas árvores. Nos solavancos que levou até o veículo parar, bateu a cabeça e desmaiou. Quando voltou a si, verificou que havia sofrido...
Leia MaisAprendiz de Tarado
Passava todas as tardes, voltando pra casa, de ônibus, a saia justa, apertada nas ancas. De quê trabalho vinha não sei dizer, só sei que me provocava uma vontade incrível de agarrá-la. Era do tipo que me viciei a gostar – modelos – talvez por ser recepcionista de um estúdio fotográfico. Mas essa mulher era diferente, irresistível. Às vezes, eu ficava esperando bem na frente da parada do ônibus, para ver-lhe as coxas finas enquanto descia os degraus. Ela ajeitava a blusa quase transparente, desgrudava a alça do sutiã, agarrava a bolsa por receio de ladrões e, finalmente, jogava os longos cabelos negros de lado e ia rebolando pelo meio da calçada. Por dias, segui aquele rebolado até a casa dela, de longe, é claro, tinha receio…, na...
Leia MaisA Égua Pintada
Meu haras não era dos grandes, poucos animais, porém de qualidade. Todos com pedigree de peso, alguns até premiados em exposições. Tentava estar bem documentado segundo as regras da Associação Brasileira do Cavalo Árabe, mas nem sempre isso era possível. Anualmente, no inverno, participava do leilão de Campos do Jordão, patrocinado pelo tradicional hotel Vila Inglesa. Naquele ano, trouxe para venda apenas um animal, Belinda, uma égua jovem, muito bem domada pelo nosso treinador. No dia do leilão, uma manhã fria de inverno, o clima estava horrível, gelando os ossos, embora os turistas estivessem ali justamente por isso. Logo que o dia amanheceu, os peões começaram a lida preparatória dos cavalos. Primeiro o banho de água fria, os equinos tremiam,...
Leia MaisSocorro
Era uma bela manhã de fins de maio, época preferida pelos cineastas para filmar cenas externas no trópico de Capricórnio, onde e quando o Sol incide limpo sobre a terra, atravessando uma atmosfera sem nuvens. O set de filmagem estava montado na areia da praia, ao fundo o mar carioca. Por vício, Alice deu uma última ajeitada no cabelo e colocou-se na posição que o diretor lhe havia indicado. – Câmera, ação! Ela começou a despir-se, delicadamente tirando uma a uma as peças de seu vestuário, fazendo aparecer seu corpo magnífico. De repente, quando já estava quase nua, um rapaz que participava da filmagem saltou sobre ela. A rudeza do movimento a derrubou, ele por cima, tentando beijá-la, ela se debatendo. Logo imobilizado pelos seguranças da...
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