As Mulheres do Sultão
Era uma noite maravilhosa, uma dessas noites como só parecem existir quando se é jovem. Era o aniversário do sultão Ali, a tenda estava repleta de meninas dançando.
Todos os anos, quando o Sol voltava àquele mesmo ponto do Zodíaco, ele adquiria uma nova esposa, e para isso, realizava uma competição entre as diversas candidatas que se apresentavam. Deviam ser bem jovens e bailar a dança do ventre com maestria.
Confortavelmente sentado em suas almofadas, ele era o juiz, observava as candidatas que só para ele dançavam. Tinha de escolher apenas uma, tarefa difícil. Atrás de si, além dos eunucos, ficava o Conselheiro, sempre atento às necessidades mentais do patrão.
De repente, atrapalhando a apresentação das candidatas, ouviu-se uma gritaria vinda do harém, da tenda contígua. Os eunucos correram para acalmar o que, provavelmente, seria mais uma briga entre as esposas do sultão.
– Caro Conselheiro – chamou Ali em voz baixa – preciso de sua ajuda. Tenho problemas no meu harém. Minhas mulheres deram pra brigar por qualquer coisinha, armam uma gritaria à toa, e o pior, falam sem parar.
– Mulher que fala demais tem falta de sexo – cochichou-lhe o Conselheiro ao pé do ouvido.
O Conselheiro que havia servido três gerações daquela família era um homem idoso. Suas opiniões eram tidas como sábias e muito respeitadas. O sultão já não era jovem e sabia que, no cumprimento de seus deveres matrimoniais, estava em falta – Também, já tinha 26 esposas! Ademais, como era rico e podia pagar por extravagâncias, cultivava o vício de se divertir com meninas virgens de outros oásis, em encontros furtivos nas areias do deserto. Das esposas, enjoava logo depois do primeiro ano, quando era escolhida uma nova.
– Minhas mulheres estão fervendo, eu não dou conta, não sei mais o que fazer, Conselheiro? – ele desabafou.
– Precisa conseguir um eunuco ativo – afirmou o ancião, sem mesmo ter de pensar.
– Parece uma boa idéia, mas onde vou encontrar? Nesse oásis não tem nenhum.
– Deixe comigo, vou achar o que o senhor necessita nem que precise viajar pra longe.
E o ancião percorreu diversos oásis até encontrar Samir – um atleta forte, tanto nas pistas como na cama – que se dispôs a fazer uma vasectomia e em troca, viver como eunuco, cuidando das mulheres do sultão com um salário generoso. Assim, mantinha a capacidade de ereção e gozo, mas não podia reproduzir, o que era bom, não macularia a prole do patrão.
O fogoso rapaz foi introduzido no harém, e em poucos dias as mulheres começaram a se acalmar, a cantarolar… Samir dava conta de todas, encheu o harém de vida e fez até mesmo os apáticos eunucos entrarem na brincadeira e ajudarem na satisfação das mulheres da forma que podiam…
Ali ficou muito satisfeito – Meu eunuco salvador! – dizia a si mesmo. – Agora podia despreocupar-se do harém e dirigir suas energias para os encontros secretos.
No ano seguinte, na festa de aniversário, quando o sultão escolheria uma nova esposa, surgiu a morena Fatma, uma jóia do deserto, a mais bela mulher que já se vira por aquelas bandas. O sultão ficou excitado assim que a moça surgiu, mas durante a dança, percebeu que ela não tirava os olhos do belo Samir, postado atrás de si, junto aos demais eunucos – Não faz mal, mas primeiro ela seria dele! –pensou.
Samir passava a língua pelos lábios, como se degustasse a distância o sabor da morena. Teria de esperar que o sultão se cansasse dela?… Não! Não queria mais esperar, nem queria que o sultão a tocasse. Fatma era sua vizinha de infância, seu primeiro amor adolescente. Uma dor que nunca sentira antes palpitou em seu peito, talvez ciúme só de imaginá-la na cama do sultão.
E era onde estava na noite de núpcias, Fatma, a virgem donzela esperando pelo esposo. Quando o sultão entrou na tenda já estava bêbado – o que acontecia todo ano em suas noites de casamento – a embriaguês da festa. Exalando um forte perfume de almíscar misturado à cachaça do deserto, cambaleou até a cama e caiu deitado.
– Me agrada, minha tamarazinha! – balbuciou.
– Que Allah o faça dormir logo! – rogou ela, ansiosa para escapar dali. Nas noites de núpcias o sultão dispensava sua guarda pessoal, queria mais privacidade, e assim, sua tenda ficava mais desprotegida.
Para apressar a chegada do sono dele, Fatma começou uma cantilena monótona, horizontal, hipnótica, que deu resultado: não tardou, o sultão começou a roncar. Então, silenciosamente, ela se esgueirou pra fora da tenda.
Logo depois, um corcel relinchou ali perto e despertou o sultão, que girou os olhos pelo espaço e não viu sua nova esposa. Ergueu-se com esforço, cambaleou alguns passos e abriu a entrada da tenda. A lua cheia branqueava as areias do deserto e o ele viu Samir carregando sua Fatma na garupa. Primeiro gritou: – Peguem, peguem o ladrão!
Depois falou mais baixo, para si mesmo, com o orgulho anestesiado pelo álcool: – Foi bom mesmo, já tenho mulheres demais!
No oásis, muitos despertaram a tempo de ver o corcel portando o casal banhado de luar, se apequenando no deserto sem fim. Por muito tempo podia-se segui-los com os olhos. Finalmente, os dois desapareceram.
Grande Marinho! Blz? Não achei um espaço neutro, ou específico pra comentar sobre o livro “Doce Alquimia”, nem tenho teu e-mail, então faço por aqui mesmo; qualquer coisa você exclui. hahah!
Achei o livro sensacional! Envolvente, repleto de questionamentos oportunos, que me obrigaram a reavaliar minhas convicções. Tão bom que vou ler novamente, pela terceira vez. E recomendar aos amigos.
Apenas um comentário, por aqui: Sobre o ensinamento do Heráclito, cada vez mais me parece que podemos deixar a colher na areia e mergulhar no oceano, com tigela e tudo.
hahah!
Abraçooooo!